terça-feira, 28 de outubro de 2014

" (...) no entanto, o mais corajoso dentre nós tem medo de si mesmo. A mutilação selvagem de nossos desejos tem a sua trágica consequência na própria renuncia que perverte as nossas vidas, somos castigados pelas nossas renuncias, todo impulso que procuramos extinguir germina em nossas mente e nos envenena. Pecando o corpo se libera do pecado, porque a ação é uma forma de purificação, e nada resta então a não ser a lembrança de um prazer ou a volúpia de um remorso.
O único meio de nos livramos de uma tentação é ceder a ela. se lhe resistirmos nossas almas ficarão doente, desejando as coisas que se proíbem a si mesmas, a alem disso, sentirão desejo por aquilo que algumas leis perversas, tornaram perversas.
Os grandes acontecimentos acontecem no cérebro, e somente nele também acontecem os grandes pecados do mundo.”

Oscar Wilde. In: O Retrato de Dorian Gray (retirado do perfil do Marcelo Rocha)
O mundo virou um lugar tão pervertido, que oferecer um abraço pode ser um ato perigoso. Quanto mais cedo enfiarmos nossas crianças numa instituição, e quanto mais tarde a tirarmos de lá, melhor será, para que não incorramos no risco de um mau adestramento. Não importa o que aconteça dentro das paredes desses coraçõezinhos, importa que saiam iguais a nós, completos imbecis, tão vazios quanto a nossa última garrafa de Whisky, tão vazios quanto a soma de todas nossas realizações. Ah, caro Salinger, qual outra saída haveria para um coração tão belo quanto o do nosso Seymour Glass?
Dizem que temos que ser fortes, muito fortes, mas isso é puro discurso, pois somos tão frágeis quanto uma bolha se sabão levitando nesse ar. Pensando serem eternos, as pessoas agem como verdadeiros carros desgovernados, jogando vidas, milhares de vidas, cheias de sentimentos, repletas de sonhos, à beira da estrada, num profundo precipício, escuro precipício. Pode ser que em sua ironia Kafka estivesse certo: “Nosso mundo é apenas um mau humor de Deus, um dos seus maus dias.”.
Vou escancarar as janelas do meu quarto, esperando que o Sol a alcance, vai que é verdade e ainda temos chances...

Marcelo Rocha

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Tchau, amor
Talvez eu assuma meu blefe
Talvez eu rasgue o baralho
Pare com a bebida
Perdoe minha tristeza
E caia na chuva
Pegue aquela curva
Que vai dar sabe-se onde
Talvez eu te telefone
No meio da noite
E gagueje clichês
E volte a sofrer
Talvez eu volte pros setenta
Pros chás, ervas e fungos
Talvez eu aprenda clarinete
Talvez eu caia fora
Pruma noitada de jazz sem volta
Talvez eu quebre todos os meus discos de blues
E rasgue toneladas de livros malditos
(pouco provável)
Talvez eu passe a frequentar festas chatas
E sorria simpático
Pra amebas em trajes da moda
Talvez eu assalte um banco
E vá viver no México
Talvez eu me candidate a vereador
(Não, isso nunca!)
Talvez eu faça uma merda
Maior que as anteriores
E vá parar na cadeia, num hospício
Numa igreja
Talvez Jesus toque meu coração
Como eles dizem por aí
Talvez eu siga por toda a eternidade
Sempre trocando
Uma fuga por outra
Um vício por outro
Um copo por outro
Talvez eu encha a cara e escreva
Mais um romance
Ou mergulhe noutra noia qualquer
Talvez eu volte
Aos trash-metal oitentistas
Destilados baratos
E comprimidos de anfetamina
Talvez essa noite
Me lembre
Duma antiga oração infantil
Sobre anjos e sonhos bons
Talvez eu quisesse acreditar
Na merda toda
Talvez eu continue
Como o cacto no vasinho
Em cima da geladeira
Talvez
(é bem provável)
Eu só esqueça o AMOR.
Kleber Felix, no livro NUM DÁ PRA APAGAR OS RISCOS DUM DISCO FURADO

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

“Nunca amei uma mulher antes, só me interessaram sexualmente. Ela também me excita, mas alguma coisa, uma estranha sensação nos nervos ameaça me sufocar se não voltar a vê-la. Será que estou ficando babaca?”

Efraim Medina Reyes, no livro Era uma vez o amor mas tive que matá-lo
“Se eu não fosse casada, e se eu quisesse ter filhos, iria te pedir um. Sua aparência/ forma/ postura convida e testifica: ‘faço filho bem’. Meio animal isso mas você tem um ar de procriador perfeito. Olho pra você e sinto todo o conjunto me chamando e dizendo: ‘faça um filho comigo’.”

Cecília Marazano
“Ao final de mais um dia cansativo, chego em casa à espera do carinho que não receberei, à espera da pergunta de “como foi o seu dia” que não receberei, à espera do abraço acolhedor que não receberei, à espera dos ouvidos atentos pra ouvir os fatos que presenciei, os fatos que protagonizei e os fatos que ouvi me contarem, ouvidos esses que não terei. Chego e sento à espera da mensagem inesperada, à espera do telefonema inesperado, do convite inesperado, mas nada me ocorre. Chego, sento, deito, levanto e espero o que sei que não virá. Todos os dias a frustração em espera sentada no sofá.”

Daniel Matos

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Aperto o 12 que é o seu andar, não vejo a hora de te reencontrar, continuar aquela conversa que tivemos ontem... Não ouvi sua voz, mas seu brilho e minha admiração fizeram nossa comunicação fluir.

Seu cheiro, sua imagem, seu cabelo e sua semelhança com o perfeito me fez declarar todo meu amor pelo momento ímpar que fazíamos parte.

Na mochila estou levando uns livros do poetinha, uns discos do titãs e umas vontades a parte.

Lembrando de Vinícius de Moraes comecei a pensar que a vida realmente é a arte dos encontros, embora haja tantos desencontros pela vida.

E mais, que os encontros são presentes que o vento nos dá, sem devoluções ou troca, apenas com a condição de que estejamos preparados para receber e abrir o pacote.
Eu estou, e hoje, penso que seria estranho se eu não me apaixonasse por você, e que meu maior presente, é saber que o elevador está me levando para a porta do seu apartamento, e que novamente poderei acreditar num mundo melhor, no instante que você sorrir...

Ah, antes que eu me esqueça, trouxe flores que se aparecem muito com você.

Chamo elas de perfeitas...

-

Petherson Cardoso
por que essa distância entre nós? este espaço cheio de idiotas que nos separa, o que é isso? por que as deusas mais perfeitas sempre nos aparecem nos lugares medíocres? e lotados? eu sinto que pode ser você. e eu tenho tanta quase certeza disso que eu vou me concentrar pra que você se materialize aqui do meu lado. não que eu seja grandes coisas. não que eu tenha poderes. não sou. não tenho. mas você tem. e é por isso que você vai fazer isso por mim. vem logo. pule os idiotas. tô te esperando no bar.
- J.Castro
O QUE ME MOVE É...
por Tico Sta Cruz (extraído do livro Tesão)

O que me move é o desejo. O desejo sem culpa, outras vezes até inconsequente.

Como acelerar em alta velocidade numa estrada escura e cheia de curvas. Minha mente imoral, indecente. Vai criando fantasias, e o sangue do anseio de colocá-las em prática escorre pelos cantos da minha boca, como um animal vadio, e seus instintos primitivos incontroláveis e assassinos, na violência que lhe conduz até que sua vitima seja deixada em pedaços.

Quero te invadir. Quero tirar proveito de cada sentido do que lhe pertence. Como lâmpadas acesas jogadas dentro da piscina ou nas escadas molhadas por uma chuva que fui eu que inventei. Tenho tudo aqui na minha cabeça. Inclusive a cor do seu batom, da sua meia, do seus pelos, do bico dos seus seios.

Tenho você presa dentro do elevador, de frente para os espelhos. Quero sentir seu cheiro. Respirar colado na sua nuca e percorrer com meus lábios cada gota que consegui tirar do seu suor. Quero melar meus dedos em ti.

O que me move é o perigo. A ação por impulso. O comportamento lascivo. O prazer de dar prazer. O prazer escondido, aquele que sinto ao destronar o inimigo. Estar vivo e não ajoelhar pedindo perdão pelas noites em claro que passei envergonhando algum Deus. Caminhar no parapeito de um arranha-céu, fingindo estar bêbado e tendo o coração pulsando como o de um bandido ao apontar a arma para sua própria cabeça. O desespero por não conseguir mais esperar, por querer que seja imediatamente. Por te colocar nua, largada num colchão sem lençol, e me masturbar olhando dentro dos seus olhos. Ostentar meu desprezo pelas janelas abertas do quarto. E caminhar até que entre nós exista apenas o espaço de uma estocada forte. Quero que você não seja capaz de sufocar o grito. Não seja capaz de controlar seus movimentos. Que ao fechar os olhos para me sentir por dentro, crave as unhas no ladrilho do banheiro.

Porque depois, vou amarrar seus punhos pelas costas. E hei de brincar com as pedras de gelo do copo do seu uísque. Me arrastando por entre suas coxas feito um lagarto. Me percebendo como um adolescente pervertido.

Quero o privilégio do contato, com a ponta eriçada do seu peito lindo. Toda arrepiada, sem qualquer pudor em se entregar sem destino.

Pois lhe escrevo agora, imaginando e me embrenhando em cada momento seu.

Se pudesse me olhar então, lhe mostraria o poder de estar em suas mãos. Faria questão de que me tocasse com seus lábios e me tivesse próximo do seu nariz. Sentindo o cheiro do meu desejo, e o gosto do que farei jorrar quando estiver estirado aos seus pés. A pequena morte.

O que me leva, é a incerteza. E na sua indecisão, me farei presente, pois mesmo que isso nada represente, aqui aconteceu.

Eu te devorei como um esfomeado que conseguiu fugir do campo de concentração de uma dessas novas guerras. Antes aprisionado ao monitor, agora com as mãos sujas do seu gozo.

Imaginei cada detalhe do que jamais seria capaz de transcrever.

Você me conduziu...

Me deixa te conduzir dessa vez.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

"(...) Porque vivemos em uma época de paixões sociais. A grande tragédia de nossa época consiste no choque da personalidade individual com a comunidade. Para alcançar o nível de heroísmo e custear o terreno dos grandes sentimentos que dão vida, é necessário que a consciência se sinta ganha por grandes objetivos. Toda catástrofe individual ou coletiva é sempre uma pedra de toque, pois desnuda as verdadeiras relações pessoais e sociais. Hoje em dia é necessário provar este mundo. O poeta, por exemplo, se sentiu independente do burgues e até se enfrentou com ele. Mas quando o assunto se tratou da Revolução, se mostrou um parasita até a medula dos ossos. A psicologia do indivíduo assim mantido e dedicado a ser sanguessuga humano, não tem rastros de bondade de caráter, respeito ou devoção. Hoje em dia os "mocinhos" estudam ainda em livros as custas do sacrifício dos explorados, se exercitam em periódicos e criam "novas tendências". Mas quando uma revolta se produz seriamente, em seguida, descobrem que a arte se encontra nas cabanas, nos buracos mais reconditos, onde fazem ninho os cupins. É preciso derrubar a burguesia porque é ela quem fecha o caminho a cultura. A nova arte não só desnudará a vida, mas lhe arrancará a pele. Amar a vida com o afeto superficial do deleitante, nao é muito mérito. Amar a vida com os olhos abertos, com um sentido crítico cabal, sem adornos, tal como nos aparece, com o que oferece, essa é a proeza. A proeza também é realizar um apaixonado esforço por sacudir aqueles que estão entorpecidos pela rotina, obrigar-lhes a abrir os olhos e fazer-lhes ver o que se aproxima."

León Trotsky